sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

o limite do peso

o peso está no limite
da face,
no limite do poro
na unha,
na água no olho
tá na cara
esborra pela cara
assanha os cabelos
derruba a cabeça


o peso limita

sábado, 24 de outubro de 2009

eu sou parte da noz*

O evento do nascer da lua
E o lamento do morrer do sol
Descubro a consciência de mim mesmo
Eu faço parte
Eu contribuo
Eu sou
Eu também
Eu sou a noite
Eu estou na rua
Refletida na lagoa
A imagem da lua...
Sou meus cabelos nos raios de sol
Sou minhas lágrimas na chuva de verão
Sou meus dentes nas flores do ipê
Sou o desejo nas ondas do mar
Faço parte do lamento do morrer do sol
Faço parte do evento do nascer da lua
Sinto arder a minha pele dourando
Vejo nascer meus cabelos nas árvores
Sorrindo
Sou a lagoa limpa
Sou a vida calma
Sou o céu azul quando paro de chorar
Meus desejos e meus sonhos
Numa casca de noz
Eu sou nós
Eu sou a voz

* O título da poesia se remete ao título da publicação do físico Hawking, “O Universo em uma casca de noz” que se refere ao nosso planeta Terra.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

a sina

Eu olho
Eu falo
Eu sorrio.
Canto
Brinco
Rio.
Beijo
Abraço
Falo.
Amo
Choro
Calo.
Ando
Deito
Durmo.
Vivo
Cego
Surdo.
Minto
Rio
Falo.
Odeio
Zango
Trago.
Volto
Rio
Prometo.
Fico
Concordo
Aceito.
Minto
Discuto
Erro.
Sangro
Minto
Erro.
Brigo
Saio
Corro.
Choro
Magôo
Morro.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

discurso distorcido

Tua rosca torce para a direita
E todo o do contra torce para a esquerda
Ou seja, distorce a rosca
Distorce o discurso
Do curso da esquerda

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

crônica da aluna atrapalhada...

-Professora, eu queria lhe dizer uma coisa, mas a senhora vai brigar comigo...
-Eu? Por que eu brigaria com você -com ar sarcástico...
-Não professora, sério. Tô com vergonha de lhe contar...
-Conta F., tem nada não.
-Professora, eu juro que foi sem querer...
-Mas a senhora vai brigar comigo, ai meu Deus - disse colocando a mão na cabeça, sem jeito.
-Mas o que você fez foi tão grave assim? Se for, eu não sei não viu...
-Não, professora, ai meu Deus, eu não vou contar mais não...
-Conta logo F., já começou... Eu não vou brigar não, tá certo? A gente vai conversar, diz o que foi que você fez.
-Professora... Ai meu Deus - e toma coragem...- Sabe a sua bolsa pintada? Foi eu que pintei. Mas eu juro que foi sem querer, eu... - e foi interrompida pelas gargalhadas da professora!
- Mas F., foi você quem pintou minha bolsa?
-Mas foi sem querer, professora, eu juro! - nervosa, falando rápido - Olha, eu tava com essas canetinhas que são corretivos, sabe, e tava ouvindo sua explicação e brincando com a canetinha, que nem é minha, é de N. Aí, a sua bolsa tava em cima do birô e eu tava alí pertinho e quando eu percebi, já tinha pintado a sua bolsa professora, eu nem percebi! Desculpa professora! Desculpa, foi sem querer!
-Vem cá F.... - disse a professora puxando a aluna pra um abraço. - Você sabe o que eu pensei? Que tinha sido um aluno com raiva por ter tirado nota baixa...
-Não professora, eu nunca faria isso... Professora, por favor, não conta pra ninguém...
-Ah, mas eu vou contar! - provocando...
-Não professora, não...
-Vou contar pro meu marido.
-Ah, pro seu marido pode.
-Quando eu cheguei em casa, ele percebeu logo que minha bolsa estava pintada. E sabe o que foi que ele disse? "É muito atrevimento..." E eu respondi, alterada: "Se eu tivesse um carro, seria o carro!"
-Affff, professora!
-E sabe o que ele disse?
-Hun?
-Que eu tinha que descobrir pra ganhar uma bolsa nova. Olha como essa tá acaba, F.!
-Aí também é demais né professora?! Afffff. Hahahahahaha - e riram as duas!
Quando a professora encontrou seu marido mais tarde, já chegou morrendo de rir...
-E ela não pediu desculpas? ele perguntou.
-Pediu, mas eu ainda fiquei aperriando ela... A bichinha! Precisava ver a cara dela! Como é que pode uma coisa dessas??
- Gatinha, isso é história de professor mesmo.- riu o marido que também é professor... - É a crônica da aluna atrapalhada...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

i want to be a writer

O escritor pode escrever o que bem entender. Pode escrever errado, porque pode acreditar que não há necessidade de existir tantos “porquês”, simplesmente os necessários e fim de papo. Pode não utilizar termos cultos todo o tempo, afinal, não é nenhuma enciclopédia, nem um dicionário ambulante...
O escritor tem tanta soberania que pode escrever o que quiser e nem se prestar a uma explicação sequer. Pode entrar para a posteridade e deixar enigmas que a sociedade jamais conseguirá decifrar. No entanto, venera-o pela sua própria ignorância de não estar entendendo nada do que ele quis dizer. O ruim do trabalho do escritor é que, muitas vezes, a obra, por ter uma qualidade indiscutível, só é valorizada quando o autor já não pode mais se vangloriar. Ou menos mau, quando o escritor esperou a vida inteira (de inúmeros trabalhos, claro) para ser reconhecido e ocupar alguma cadeira de uma Academia qualquer. Como se fizesse muita diferença ser prestigiado em casa ou numa cadeira numa academia...
Yes, I want to be a writer. Quero que meus filhos (que não nasceram) e que meus amigos (que podem não estar vivos até lá) vejam minhas obras e digam: “It wanted to be a Writer”. E quem sabe, sintam falta de minha chatice e ranzinzice e deixem escapar uma lágrima dos olhos. Meu corpo se revirará em seu túmulo de euforia, pelo reconhecimento.
Yes, I want to be a writer. E no momento em que escrevo isso, penso: será que assim será? Amém? Será que o que estou escrevendo no momento e que alguém possivelmente estará lendo (porque se não existir o receptor/leitor, não existe interlocutor/escritor e menos ainda a mensagem/obra), graças a Deus, realmente vingará? Será que um dia estará publicado ou será apenas mais um livro das livrarias, que a gente passa despercebido?
No, I don’t want to be unnoticed. Eu quero crescer. Prefiro livro nenhum em livraria ou banca de revista. Melhor estar nas mãos dos amigos e talvez dos filhos. E aí, talvez eu possa ser reconhecido: “foi amigo de um antepassado...” Parece piada! Porém, eu tenho que confessar: tenho vontade de escrever quando recebo visita ou quando viro visita, ou quando estou ocupado fazendo trabalhos domésticos (Arg!) ou quando estou no trânsito... Não dá certo! As idéias vêm, eu as monto, dou vida e lãs vão embora depois, as traidoras! Mas eu sei que ainda realizarei sonhos e publicarei um livro.
Yes, I will be a writer!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

o dom de joão

João tinha um dom. Mais que um dom, João era bom. Bom de coração. Coração jovem, mole, bondoso, humilde e amigo mesmo. Bom no que inventasse de fazer também.
Ele sentia que havia algo diferente consigo e, mais profundamente, sentia pena, muita pena daqueles outros que não eram como ele, ágeis intelectualmente. Daria aí um contra-conceito para a sociedade do que é esperteza. Abrangendo essa palavra para mais que o dom do saber e respeitar simultaneamente: ter consciência de que o ser humano sapiens sapiens não somente precisa saber, mas também ser respeitador. E não somente ter, mas ser humilde. Não somente poder, mas ser prestativo. Era assim João.
Quando criança, João brincava com as outras crianças e todos se divertiam muito porque João criava ótimas brincadeiras. Na escola, era um ótimo aluno, bom nos cálculos e nas letras. Era abençoado. Mas ele sentia desde há muito que belezas diversas brotavam dentro de si e que faziam um esforço gigante para mostrar toda a sua essência, porém mal conseguia desabrochar em seus olhos. E João sentia que seus olhos ferviam e suas narinas e sua garganta. E as maravilhas quando viam outras, parece que enlouqueciam, que deixava João deslumbrado, com lágrimas nos olhos (uma tentativa de baixar o calor nos seus olhos e pôr para fora ao menos metade da emoção e das belezas que dentro de si haviam). Mas parava por aí. Não era o suficiente para ele, claro, mas como o melhor dos “homo sapiens sapiens”, como o homem que sabia demais, não podia fazê-lo, seria prepotência demais. Os outros não mereciam concorrer artisticamente com João. De forma nenhuma. Seria desleal. E João sabia disso. E assim foi.
Jamais, a não ser como dever de casa, João escreveu histórias próprias, trabalhos musicados ou encenados ou na pintura.
Durante sua vida, João casou (cedo, inclusive), trabalhou, ajudou a mãe, não teve filhos, porque infelizmente morreu cedo, bastante jovem, lamentavelmente, de um tumor que se iniciou no pulmão e se alastrou por todo o tórax.
E João morreu de um só fim, sem deixar herdeiros de sua inteligência, sem deixar vestígios de sua existência.

sábado, 5 de setembro de 2009

em busca dos meus passos...

"Internet todo dia
enterrando a poesia
destruindo o que ainda restava de nostalgia
e magia criativa
prende a asa em sua teia
distraindo-se em mensagens bonitas
de gente feia
(...)sem conexão no peito
congelou meu coração
que já não quer rodar direito

restart
começa do zero por outra parte
amemória tem limite
então delete, descarte
desconte
desmonte
desligue, se possível
desconecte sua cabeça
apareça invisível"

Offline - Gabriel, O Pensador

Hoje estou aqui na net, escrevendo pela primeira vez no blog que montei há pelo menos um mês. Por que eu demorei tanto a começar a escrever? Se me inclino para isso há tanto tempo? Possivelmente porque sei que não terei muito tempo para escrever o quanto eu gostaria. Estou trabalhando tanto... É exaustivo e estressante... Ao mesmo tempo em que é recompensador em certos momentos. Ser professor hoje em dia não é ser mais humano...
Mas quando eu ainda era um ser humano era melhor... Eu poderia ter criado esse blog naquele tempo, enquanto poderia encher de ideias e pensamentos, críticas e recados subliminares...
Antes ainda, quando não era acessível o computador, ainda daria para eu escrever bastante, criar poemas, contos, cartas para o etéreo...
Naquele tempo, eu gostava de conversar, assistir TV, desenhar, olhar as pessoas e contemplar as paisagens para memorizá-las a vida inteira – tinha medo de crescer e esquecer, ficava olhando e repetindo o que via para ficar bem gravado – lia o que estava escrito em todos os lugares, especialmente na rua, nos outdoors, muros, postes... E adorava escrever. Escrevia os diálogos nos meus desenhos, escrevia orações pro menino Jesus, treinava o meu nome em diferentes caligrafias, escrevia os nomes bonitos da pessoas, as músicas que gostava, imitava a caligrafia das máquinas de datilografar e escrevia recadinhos para todo mundo e qualquer pessoa.
Até que aos nove anos eu escrevi minha primeira poesia espontânea e a primeira que me recordo. Fruto de um de meus momentos de contemplação.
Ela se chamava “Meus Passos”. Mostrei pra minha colega da escola, Valeska e ela gostou tanto que eu tive que copiá-lo pra ela e pra Carol, outra amiga nossa. E daí a pouco, eu estava fazendo cópias com papel carbono, tantos pedidos que “Meus Passos” já havia conseguido!
Hoje eu não sei mais por onde anda "Meus Passos", mas adoraria saber...
Quem sabe por onde anda(m) o(s) "Meus Passos"?